quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Navio Negreiro


Trazida a força da Costa africana com apenas 13 anos de idade, mais uma força braçal para contribuir com o crescimento social da colonia portuguesa. Joaquina este era seu nome, menina simples e assustada que não entendia se quer uma palavra que aquele povo estranho dizia, só entendia apenas o sofrimento da dor.

Terra a vista, pé no chão e um brasileiro no ventre. Dentro de um mercado é escolhida para ser cozinheira, ama de leite e amante, servir uma casa domésticamente. Já na primeira residencia não é bem sucedida, pois a sinhá, mulher critica e muito ciumenta desconfia que o mulato é do marido, embora não seja, ela desconfia porque seu marido anda esticando os olhos para aquelas ancas encarnadas, como castigo vai conhecer a cantiga do chicote.

Resistindo ao ardor da pele negra, passa a noite no açoite e na manhã seguinte recomeça a labuta, triste cotidiano que até então o destino não lhe apresentara. Os meses passam e os castigos não cessam e cada vez mais se depara com as injustiças que seus conterrâneos sofrem.

Nove meses depois nasce a sobrevivente, concebida em alto mar e abençoada pela princesa de Aiocá. E assim junto com sua mãe, segue o destino de servir uma outra casa, de um outro senhor de engenho e dono de fazendas.

Melhor adaptada com os costumes da nova Terra, Maria é a mais nova ama de leite da casa e amamenta a criança branca como se ela fosse uma vaca holandesa, ofertando o seu leite que ajudará aquela criança branca e frágio a crescer com força.

E assim a vida segue seu percursso, os olhares do novo dono segue cada movimento que seu corpo faz, e aguarda ansiosamente uma oportunidade para saciar seu desejo. E é numa dessas noites quentes que a sinhá não está disposta, que o seu corpo servirá de acalanto.

Grávida agora de um menino, que a sinhá ainda não pôde ofertar ao marido, Maria enjoa pelos cantos da casa e reprimidamente sofre por temer a reação da dona da inhá, quando descobrir que ela espera menino e pior se ela desconfiar quem é o pai.

Impulsionada pelo medo, toma uma decisão. Fugir sem destino a procura de segurança e sossego. Após dias de fome e de frio com sua menina ao lado, ela encontra um povoado distante e é na paróquia que Joaquina pede abrigo.

Os sarcedotes ao depararem com a cena e com sua história, lhe oferece emprego em troca do abrido. O tempo passa e as crianças crescem, tornam - se mulatos bonitos e encorpados, a menina dona de uma beleza exótica encanta um branco de origem maçonica que não se casa com ela, mas que a sustenta numa fazenda no qual ela é dona. O rapaz cresce e vai embora do vilarejo para longe.

Maria agora é uma senhora que vive com um dos seus netos, e rodeada de bisnetos para eles, ela conta histórias e faz adivinhações e assim perdura as marcas que a colonização lhe deixou.

Um comentário:

Priscila Brito disse...

Uau, Lu! Adorei seu post. Confesso que me identifiquei com a história, afinal a maioria de nós brasileiros tivemos nossa origem desta forma.