quarta-feira, 12 de outubro de 2011

John Hersey Hiroshima

No dia 06 de agosto de 1945, às 8h15 da manhã, a bomba atômica foi lançada sobre o centro de Hiroshima, no Japão. Morreram mais de cem mil pessoas, e outras cem mil foram atingidas, marcadas por feridas jamais vistas até então.
Pouco mais de um ano depois, o jornalista John Hersey lança Hiroshima, uma reportagem que ocupou toda a edição da revista The New Yorker. Tomando como ponto de partida a trajetória de seis sobreviventes, a obra de Hersey, transformada em livro anos depois, é considerada uma das melhores obras sobre jornalismo literário, tendo sido considerada por um grupo de especialistas como a melhor reportagem escrita em todo o século passado na imprensa americana.
Os ataques a Hiroshima e Nagasaki revelaram ao mundo a extensão do poderio bélico dos Estados Unidos, além de mostrarem a sobreposição dos interesses políticos e militares ao respeito pela vida e dignidade humanas. Na primeira cidade, 100 mil pessoas morreram. 
O jornalista visitou Hiroshima um ano após a explosão e entrevistou seis sobreviventes. Ficou no Japão de 25 de maio a 12 de junho de 1946 e levou aproximadamente seis semanas para escrever a história. Quarenta anos depois, Hersey voltou à cidade e reencontrou seus entrevistados. O último capítulo do livro foi concluído após seu retorno.
            O autor contextualiza cada história, remontando, em frações de segundos, seis vidas em seis cenários diferentes. Deste modo, humaniza a narrativa e se coloca na posição de expectador dentro do próprio texto. O leitor, assim como Hersey, é apresentado à dor silenciosa dos mais de 100 mil feridos por meio do relato de seis pessoas que sobreviveram ao ataque nuclear.
O diferencial da obra está na abordagem e no enfoque apresentados. O texto é simples, impactante e isento de emoções. No entanto, o autor consegue temperar seu texto com dois ingredientes: a sobriedade e o equilíbrio emocional na descrição dos danos irreversíveis causados às vítimas.
 Hersey destaca os estilhaços morais causados pela bomba, como o caso dos hibakushas – pessoas atingidas pela explosão – e seus descendentes. O termo “sobreviventes” foi evitado pelos japoneses, pois estar vivo poderia sugerir desrespeito para com os mortos sagrados. O preconceito e sofrimento físico estiveram associados aos efeitos da fissão nuclear que eles sofreram: fraqueza, hemorragia interna, câncer, degeneração celular e infertilidade tanto em homens como em mulheres.
O jornalismo literário retoma a idéia de que a "arte de contar boas histórias" é parte essencial do jornalismo. No momento em que a imprensa, por força das mudanças acentuadas da vida contemporânea, encontra-se em fase de procura de novos caminhos, uma volta às grandes reportagens do jornalismo literário poderá ser útil para se desenhar alguns novos modelos, principalmente para aqueles que acreditam que o futuro dos jornais e das revistas está na diferenciação pela qualidade (não só da informação e da análise, mas também do texto).

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